segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Não sei o que lhes pareceu o ataque da cavalaria do Distrito Federal aos manifestantes do movimento ‘Fora Arruda’ em Brasília – eu, pelo menos, não via nada igual desde a Batalha do Avaí, na Guerra do Paraguai, retratada em obra-prima do pintor Pedro Américo, exposta no Museu Nacional de Belas Artes. Depois que o Lula disse que “as imagens não falam por si”, cada um vê o que quer no noticiário da TV. O comando da PM viu na pancadaria uma reação natural à “turba” para garantir “o direito de ir e vir da população”.
“Cada um vê o que quer”, já dizia no início do século passado o dramaturgo italiano Luigi Pirandello para brincar com a “ótica conveniente” e a “farsa filosófica” de seus personagens, cada dia mais atuais entre nós. Se Barack Obama defendeu a guerra no Prêmio Nobel da Paz e Gilberto Kassab viu “aspectos positivos” no temporal que matou oito e infernizou a vida da cidade, assim é se lhes parece. Vocês viram o José Roberto Arruda sair pela porta dos fundos do DEM com discurso paraninfo da faculdade de Direito? Parecia um professor emocionado na formatura de seus alunos.
A verdade é quase um detalhe numa época em que, diz o noticiário, o rapper Mano Brown fechou contrato com a Nike, o vanguardista Tunga está pintando aquarelas delicadas, Seu Jorge anda cantando Michael Jackson, Ronaldinho Gaúcho foi eleito melhor jogador da década e Fernando Collor está participando da Conferência do Clima. Só falta o José Serra quebrar a cara do Schwarzenegger no encontro que terão esta semana em Copenhague.
Texto publicado na coluna Ambulatório da Notícia do caderno Aliás deste domingo no Estadão.
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Abraço