quinta-feira, 18 de março de 2010

Paulo Henrique Amorim: "Os jornais brasileiros são um lixo"

Sua trajetória profissional daria um livro. Ele acompanhou a movimentação do subcomandante Marcos nas selvas mexicanas, reportou a violenta guerra civil em Ruanda, assinou matérias sobre o terrível vírus Ebola e cobriu o assassinato do megatraficante colombiano Pablo Escobar.

Por Edgar Olimpio de Souza, na revista Stravaganza

Ex-correspondente no exterior e com passagem pelos principais veículos de comunicação brasileiros, o jornalista Paulo Henrique Amorim, 68 anos, pilota o Domingo Espetacular, a revista eletrônica da Record que concorre contra o Fantástico, da Globo, e mantém o acessadíssimo site Conversa Afiada, referência de jornalismo independente. “Se eu não chutasse o balde agora, eu acabaria não chutando nunca mais”.

Nesta entrevista, acionando sua habitual irreverência e língua ferina, PHA atira para todos os lados. Desanca a mídia que chama de golpista, detona a nova geração de jornalistas, aposta que o personagem do Vesgo, do Pânico, tem mais chances que o Serra na corrida presidencial e ironiza os 15 anos do governo tucano em São Paulo. “A única obra que eles têm para mostrar é o rouboanel, cuja peculiaridade é cair”. Não bastasse, ainda desmonta o mito Paulo Francis, que ganhou recente documentário no cinema. “Era um péssimo colega, ocioso, que tinha horror de ser brasileiro.”

O jornalismo perdeu relevância?
Jamais perderá porque é um instrumento pelo qual as pessoas se informam. Tem função essencial numa democracia. Thomas Jefferson dizia que não poderia haver uma democracia sem imprensa. O que está acontecendo é uma acelerada decadência, sobretudo no Brasil, da imprensa escrita, que foi durante muito tempo o padrão e o referencial do jornalismo.

A informação chega até nós ou temos de aprender a procurá-la?
Funciona como num supermercado, que oferece um milhão de opções. Aí você escolhe o produto por preço, qualidade, experiência. Se você visitar o site Conversa Afiada, que eu tenho a honra de dirigir há quatro anos, você sabe o que esperar dele. Diz coisas muito parecidas, com coerência indiscutível. Então, se você vai comprar aquela marca de biscoito é porque você conhece o fabricante, gosta do preço, da embalagem, do sabor. Você não fica nervoso ou preocupado porque existem outras cem marcas de biscoitos na gôndola.

Mas a informação que chega é de qualidade?
No Brasil é de baixíssima qualidade, parcial, deturpada e insuficiente. Os jornais impressos ainda determinam boa parte da agenda das outras mídias e da agenda política do país. O professor Wanderley Guilherme dos Santos, notável professor de Ciência Política do Rio de Janeiro, disse que o poder da mídia impressa é o poder de gerar crises. Para mim ela é golpista, desde que conseguiu matar Getúlio Vargas ou contribuiu para ele se matar em 1954. Ela até deu um golpe em 1964, quando entrou no Palácio do Planalto com as botas dos militares na deposição do presidente João Goulart. Se você pegar a imprensa argentina, tão conservadora quanto a brasileira, notará a diferença. O Clarín, o La Nacion, o Página 13 são publicações bem melhores. Os jornais brasileiros são um lixo.

Os jornalistas de hoje são mais preparados?
Claro que não. Eles dizem aquilo que os patrões queriam que eles dissessem e eles dão a entender que dizem aquilo como se fossem as suas próprias idéias. As redações de jornal são hoje ocupadas por mauricinhos, meninos de classe média, filhinhos de pai rico, tudo branco, cheirosinhos, que nunca viram pobre na vida e não têm nenhum compromisso com a sociedade brasileira.

Como você vê o futuro do jornalismo?
Brilhante, porque será independente da imprensa escrita. A sociedade está se educando, entrou para o ProUni, tem acesso à banda larga, lê mais livros. Tudo isso demanda mais informação, que pode vir pela tevê, rádio, revista, celular, internet, redes sociais, até de carrinho de mão. Não estaremos mais à mercê das famílias Marinho, Frias, Civita e o que sobrou dos Mesquitas, que condicionavam e condicionaram durante muito tempo a opinião pública brasileira. Eles são uma praga, um rotavírus.

Acha que a mídia impressa brasileira age como um partido político de oposição?
Desde 2002 o objetivo da imprensa brasileira tem sido o de derrubar o presidente Lula. E não conseguiram porque o Lula é melhor que todos eles. O presidente pega O Globo, a Veja, a Folha e o Estadão, mistura tudo, põe no liquidificador e toma com suco de laranja.

Na sua opinião, por que a grande mídia teria implicância com o governo Lula?
É uma oposição histórica entre a imprensa escrita brasileira e o trabalhismo. Começou com Getúlio Vargas, depois Jango, Brizola e agora Lula. A diferença é que nesse intervalo de tempo houve uma concentração geral de mídia. Por isso criei a expressão PIG - Partido da Imprensa Golpista. A imprensa no Brasil é uma ameaça à sobrevivência das instituições democráticas, à democracia brasileira. Antes eu chamava a Folha, o Estadão, o Globo, a Veja e a Rede Globo de Televisão de mídia conservadora e golpista. Mas era uma expressão rebuscada. PIG é melhor.

A grande mídia estaria definhando.. .
De forma melancólica. A Veja, a última flor do fáscio, foi entregue a salteadores. Na Globo, o diretor de jornalismo Ali Kamel comporta-se como o inquisidor-geral Torquemada. Já a Folha é dirigida por um direitista enrustido que não tem a hombridade política de assumir suas posições políticas, que escreve de maneira inacessível e muita chata sobre assuntos irrelevantes e de forma irrelevante, que pensa ser um grande intelectual.

Ele faz parte desse conjunto que eu denomino de deidades provinciais. Um dos bustos da província de São Paulo é o do Otavinho. Tem também o do Daniel Piza, que enforcou Jesus Cristo. Tem ainda o busto do publicitário Luiz Gonzáles, que faz a campanha do Serra e é um gênio. Ele fez a campanha do Alckmin em 2006, que entrou para a história da política universal porque no segundo turno o Alckmin conseguiu menos votos que no primeiro.

Faltou falar do Estadão...
Ao menos tem mais coerência e é tão moderno quanto os donos do café do século 19. Se você gosta de acompanhar o pensamento escravocrata daquela época basta ler o Estadão. É um jornal que está preocupado com a tomada do palácio de inverno de São Petersburgo no século 19 e com as ocupações do MST.

Você que trabalhou na Globo não estaria cuspindo no prato que comeu?
Na evolução da humanidade mudamos do regime da escravidão para o regime capitalista. No primeiro, o trabalhador era escravo do dono. No segundo, passou a ser assim: o dono me paga para eu trabalhar para ele, em troca de remuneração. Quando eu não quero mais trabalhar para ele, vou embora trabalhar para outro. E se ele não me quer mais, me manda embora e contrata outro. Por que tinha de trabalhar lá a vida inteira? Quem disse que a Globo é um bom emprego? É uma prisão de segurança máxima. Ou você diz aquilo que o patrão quer ou é fuzilado.

Por que o Lula não enfrenta o PIG?
Ele não peitou a grande mídia, cometeu um erro estratégico, considerou que poderia dar um nó no PIG, embora tenha até conseguido porque o PIG está desencontrado, vive de fabricar uma crise falsa por dia. Ele deveria ter criado mecanismos institucionais para oferecer alternativas ao PIG, que não é a TV Brasil.

Não importa que Lula levasse pau, qual o problema? O Brizola era tratado pela Rede Globo como se fosse um cão sarnento e ganhou duas eleições para governador do Rio de Janeiro. O Kirchner foi eleito na Argentina alvejado pela mídia local e a mulher dele depois se elegeu sem dar uma única entrevista. Lula perdeu a chance de criar mecanismos para que a sociedade brasileira tenha informação de forma democrática, plural e isenta.

Ele teria se curvado ao poder da Rede Globo...
Quando trabalhei na Rede Globo, era proibido ter o som de Lula, ouvir a sua voz. Se ele falasse javanês ou sânscrito, a sociedade brasileira não saberia, só se mostrava a sua imagem. Aí teve o famoso debate Lula x Collor, em 1989, quando a Globo entrou para a antologia da manipulação política através da televisão. Então ele se elege em 2002, num domingo, e dá entrevista exclusiva para o Pedro Bial. No dia seguinte, ancora o Jornal Nacional ao lado da Fátima Bernardes e do William Bonner.

O PIG é tucano?
É porta-voz dos interesses da elite brasileira. Uma parte da sociedade brasileira tem dificuldades em admitir que exista uma alternativa política que não seja a que sempre nos governou. O símbolo dessa elite preconceituosa é o governador paulista José Serra. Ele é candidato à Presidência da República, ex-ministro da Saúde, ex-ministro do Planejamento, ex-secretário do Planejamento, ex-deputado federal, ex-senador da República. Dê uma ideia gerada por ele. O que o Serra pensa? É um conjunto em branco, uma nulidade. Aliás, é inacreditável que os tucanos de São Paulo se elejam aqui. O PIG paulista vende ao Brasil a idéia de que São Paulo é a Chuiça brasileira: tem o dinamismo econômico da China e o IDH da Suíça.

O paulista é enganado?
E não percebe. Os tucanos governam o estado há 15 anos e a única obra que construíram foi o rodoanel, mais conhecido como rouboanel, que tem como peculiaridade cair. O Alckmin, quando governador, represou o rio Tietê e disse que nunca mais haveria enchentes em São Paulo. No dia em que o PCC governou a cidade de São Paulo por dois dias, ele disse que o governador era o Cláudio Lembo. São Paulo abriga mais pobres que o Rio de Janeiro e os tucanos passaram 15 anos fingindo que não os viam. Aí, quando desabaram as chuvas, a pobreza se afogou e eles se deram conta de que eles existem.

Mas a pobreza não é igual em todos os lugares?
A pobreza em São Paulo está confinada em Sowetos. Você é capaz de morar no Morumbi, trabalhar na Rua Augusta e nunca ver um pobre. No Rio de Janeiro a pobreza invade a sua janela. Os tucanos acham que o pobre de São Paulo tem a mania de morar em barranco, em áreas de risco, quando podiam viver no Morumbi, nos Jardins e na Vila Nova Conceição.

FHC deixou alguma herança positiva?
Os oito anos de reinado de FHC compuseram a ditadura do pensamento único. Como se sabe, ele era portador do conhecimento universal, foi ele quem descobriu a Lei da Gravidade. Um dia ele estava sentado em Higienópolis, debaixo de uma macieira, e aí caiu uma maçã na cabeça dele. Pronto, ele inventou a Lei da Gravidade. Ele é o Farol de Alexandria. O FHC fez tudo o que queria. O resultado foi um período governamental de trevas, que associou a mediocridade à inação.

Quem vai ganhar as eleições presidenciais?
Não sei. Se o Serra se candidatar, o Vesgo, do Pânico, tem mais chances. Mas duvido que ele saia candidato. O Serra não irá correr o risco de ceder o governo paulista ao vice Alberto Goldman e deixar que seja eleito em São Paulo um candidato de oposição, como é provável que aconteça. Ou entregar ao Geraldo Alckmin, que quer ver o diabo na frente, mas não quer ver o Serra. Se o Alckmin ganha o Palácio dos Bandeirantes, não vai nem servir café para ele.

Também acho que será uma campanha entre Lula e FHC. A oposição está querendo sepultar o FHC, enfiá-lo naqueles esgotos que têm no Jardim Romano. Se pudesse, o PSDB o sequestrava e o mandava para o Haiti. O Lula vai pendurar o FHC no candidato da oposição, quem quer que seja o adversário da Dilma.

A Marina Silva pode ser uma terceira via?
Quem? Qual? Ela é uma traíra, foi ministra do Lula durante sete anos, saiu e agora fica criticando o governo. Faz parte do mesmo grupo de traidores a que pertence o senador Cristóvão Buarque. A Marina engrossou a comunidade de traíras.

No site Conversa Afiada você fala tudo o que pensa?
Cada vírgula minha tem uma mira, nada ali é gratuito, digo o que estou com vontade de dizer. Acho que consegui, debaixo de muita porrada, preservar esse espaço. Conhece a história do Rubem Braga? Era colunista da revista Manchete. Um dia ele foi pedir aumento ao Adolfo Bloch, que respondeu: "Você escreve isso aí em meia-hora". Aí o Rubem rebateu: "Eu escrevo isso aí em 40 anos e meia hora".

Eu tenho essa liberdade porque estou na estrada há cinco décadas. Entrei numa redação de jornal aos 17 anos, estudante de colégio, para ser foca na renúncia do Jânio Quadros. Estou lutando para ter minha independência desde 1961. Se eu não chutasse o balde agora, não chutaria nunca mais.

Viu o documentário sobre Paulo Francis?
Não vi e não gostei. Eu o lia na época em que ele era trotskista, apoiava o Jango e chamava o Carlos Lacerda de matador de mendigos. Depois, ele caiu no colo da direita e morreu abraçado no regaço do fascismo. Convivi com ele no escritório da Globo em Nova York. Era uma convivência deplorável, um péssimo colega, ocioso, tinha horror do Brasil, vergonha de ser brasileiro, queria ser americano embora falasse inglês como um escolar da Nigéria.

Estou achando interessante. Recuperaram o Wilson Simonal e o Paulo Francis, a próxima obra do documentarismo brasileiro será resgatar o coronel Ulstra, que será transformado no novo Duque de Caxias.

Qual foi o seu maior furo de reportagem?
Fiz um Globo Repórter inteiro sobre os ursos polares da ilha de Kodiac, no sul do Alasca, ameaçados de extinção. Eu estava acompanhado de um guarda florestal e cheguei a poucos metros de distância deles. Há dois anos cobri para o Domingo Espetacular um tiroteio na favela da Mangueira. Era sobre o desmonte de um muro que os traficantes haviam construído no alto do morro, com aberturas estratégicas para disparar contra a polícia. Só subi porque tinha a garantia da polícia que estava tudo sobre controle. Mas qando cheguei lá, choveram tiros.

E a maior lambança?
Quando eu era correspondente da Veja em Nova York, em 1968, fui cobrir a campanha a prefeito do escritor Norman Mailer. Eu estava acompanhado do escritor Fernando Sabino, que ia escrever crônicas para o Jornal do Brasil. Fomos ao escritório do candidato e sua assessoria sugeriu que acompanhássemos uma carreata que sairia na manhã seguinte, que disponibilizariam vaga para nós num dos carros.

Às 6 da madrugada estávamos a postos em frente à casa de Mailer, no Brooklyn, em pleno inverno nova-iorquino. De repente começou a sair gente da residência dele e logo lotaram os automóveis. Vimos que não tinha sobrado lugar para nós. Aí passou aquele camarada da assessoria de imprensa gritando: "Sigam a gente". Ficamos ali, feito dois imbecis. Fomos a uma cafeteria. Ao menos o papo com Sabino foi muito agradável.

De onde vem o humor e a língua solta?
Sou carioca.

A tendência é de se descer o Serra

Com a nova pesquisa IBOPE/CNI a distância entre Serra e Dilma diminui drasticamente em três meses - o tucanato ja fica nervoso.

Vamos aguardar a evolução da disputa. Mas uma coisa é clara: a tendência é de se descer o Serra.


Futebol Paraense



Comentarei sobre o futebol paraense apenas na semana que vem, após todos os resultados de ontem até domingo.

até

segunda-feira, 15 de março de 2010

Paraenses e Paulistas se enfrentam

Após rodadas de clássicos: aqui o Papão se deu bem sobre o Remo: 4a2; lá em Sampa foi o Palmeiras que deu pra cima do Peixe - 4a3, dentro da Vila Belmiro.





Agora, nesta semana, haverá o embate cruzado entre Paysandu e Palmeiras, e Remo e Santos, todos pela Copa do Brasil.

Espero que os paraenses se deem bem.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Cotas e democracia

Artigo de Edson Santos, ministro-chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República.

"Os resultados até agora alcançados pelas cotas são animadores"

Em sintonia com o espírito democrático de nosso tempo, o Supremo Tribunal Federal convocou audiência pública para ouvir a sociedade sobre as políticas de ação afirmativa e as cotas raciais nas universidades públicas. Através do diálogo profundo e transparente, o Supremo aponta o caminho que vai seguir para julgar as ações que contestam a promoção da igualdade racial no ensino superior.

O atual governo ampliou de forma generalizada o acesso à educação. E as instituições públicas de ensino superior, a partir de sua autonomia, aplicam há quase uma década as políticas de cotas raciais. Medida que aumentou o número de alunos negros nos cursos de graduação e vem democratizando o sistema público de educação brasileiro, que sempre reservou o melhor de seus recursos materiais e imateriais para o segmento hegemônico da população em termos econômicos e políticos.

As cotas se inserem num contexto de reparação. Após a Abolição, os negros não receberam terras nas quais pudessem produzir e não tiveram acesso a serviços fundamentais como saúde e educação, fatores fundamentais para a conquista da cidadania. Desta forma, continuaram cativos da ignorância, sem perspectiva de ascensão econômica e social. Eis a origem do imenso abismo que segrega a população negra do restante da sociedade em termos de oportunidades.

O princípio da igualdade perante a lei foi durante muito tempo considerado a garantia da liberdade. Sua importância é inquestionável.

No entanto, não é suficiente que o Estado se abstenha de praticar a discriminação. Pois cabe a ele criar condições que permitam a todos a igualdade de oportunidades. Para tanto, é preciso elevar os desfavorecidos ao mesmo patamar de partida dos demais, tratando de forma desigual os desiguais, como defendia o filósofo Aristóteles.

Esta tese pode ser comprovada em números. Mesmo a melhora generalizada no ensino superior brasileiro nas últimas décadas não foi suficiente para acabar com a desigualdade educacional histórica. Atualmente, há mais brasileiros frequentando as escolas e houve um aumento nos anos de escolaridade de todos os segmentos.

Ainda assim, de acordo com dados do Ministério da Educação, a distância de dois anos na média de escolaridade entre negros e brancos permanece intocada nos últimos 20 anos. Neste sentido, não resta dúvida de que a adoção do sistema de cotas contribuirá para uma sociedade mais igualitária.

Os resultados até agora alcançados pelas cotas são animadores. Estudo realizado junto às instituições que adotaram o sistema demonstra que o coeficiente de rendimento médio dos alunos cotistas é tão bom quanto o dos demais. Uma explicação é o fato de os cotistas serem, na maioria dos casos, os primeiros de suas famílias ou comunidades a conseguir ingressar na universidade. Motivados, agarram a oportunidade com força e vontade.

As cotas funcionam como um mecanismo de equalização de oportunidades, proporcionando a abertura das portas das universidades para um contingente expressivo de alunos que, de outra forma, não teria acesso ao ensino superior.

Nos últimos oito anos, 52 mil alunos negros foram beneficiados. Este exemplo positivo se dissemina entre as principais universidades do país, o que possibilitará a ampliação das oportunidades para um grupo ainda maior de estudantes, sinalizando que, apesar do esperneio de setores minoritários, a caravana da igualdade racial avança.
(O Globo, 11/3)

Cotas e democracia

Artigo de Edson Santos, ministro-chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República.

"Os resultados até agora alcançados pelas cotas são animadores"Artigo publicado em "O Globo":

Em sintonia com o espírito democrático de nosso tempo, o Supremo Tribunal Federal convocou audiência pública para ouvir a sociedade sobre as políticas de ação afirmativa e as cotas raciais nas universidades públicas. Através do diálogo profundo e transparente, o Supremo aponta o caminho que vai seguir para julgar as ações que contestam a promoção da igualdade racial no ensino superior.

O atual governo ampliou de forma generalizada o acesso à educação. E as instituições públicas de ensino superior, a partir de sua autonomia, aplicam há quase uma década as políticas de cotas raciais. Medida que aumentou o número de alunos negros nos cursos de graduação e vem democratizando o sistema público de educação brasileiro, que sempre reservou o melhor de seus recursos materiais e imateriais para o segmento hegemônico da população em termos econômicos e políticos.

As cotas se inserem num contexto de reparação. Após a Abolição, os negros não receberam terras nas quais pudessem produzir e não tiveram acesso a serviços fundamentais como saúde e educação, fatores fundamentais para a conquista da cidadania. Desta forma, continuaram cativos da ignorância, sem perspectiva de ascensão econômica e social. Eis a origem do imenso abismo que segrega a população negra do restante da sociedade em termos de oportunidades.

O princípio da igualdade perante a lei foi durante muito tempo considerado a garantia da liberdade. Sua importância é inquestionável.

No entanto, não é suficiente que o Estado se abstenha de praticar a discriminação. Pois cabe a ele criar condições que permitam a todos a igualdade de oportunidades. Para tanto, é preciso elevar os desfavorecidos ao mesmo patamar de partida dos demais, tratando de forma desigual os desiguais, como defendia o filósofo Aristóteles.

Esta tese pode ser comprovada em números. Mesmo a melhora generalizada no ensino superior brasileiro nas últimas décadas não foi suficiente para acabar com a desigualdade educacional histórica. Atualmente, há mais brasileiros frequentando as escolas e houve um aumento nos anos de escolaridade de todos os segmentos.

Ainda assim, de acordo com dados do Ministério da Educação, a distância de dois anos na média de escolaridade entre negros e brancos permanece intocada nos últimos 20 anos. Neste sentido, não resta dúvida de que a adoção do sistema de cotas contribuirá para uma sociedade mais igualitária.

Os resultados até agora alcançados pelas cotas são animadores. Estudo realizado junto às instituições que adotaram o sistema demonstra que o coeficiente de rendimento médio dos alunos cotistas é tão bom quanto o dos demais. Uma explicação é o fato de os cotistas serem, na maioria dos casos, os primeiros de suas famílias ou comunidades a conseguir ingressar na universidade. Motivados, agarram a oportunidade com força e vontade.

As cotas funcionam como um mecanismo de equalização de oportunidades, proporcionando a abertura das portas das universidades para um contingente expressivo de alunos que, de outra forma, não teria acesso ao ensino superior.

Nos últimos oito anos, 52 mil alunos negros foram beneficiados. Este exemplo positivo se dissemina entre as principais universidades do país, o que possibilitará a ampliação das oportunidades para um grupo ainda maior de estudantes, sinalizando que, apesar do esperneio de setores minoritários, a caravana da igualdade racial avança.
(O Globo, 11/3)

quarta-feira, 10 de março de 2010

A teoria negreira do DEM saiu do armário

Por Elio Gaspari
(Direto do Blog do Jornalista Gerson Nogueira)

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é uma espécie de líder parlamentar da oposição às cotas para estimular a entrada de negros nas universidades públicas. O principal argumento contra essa iniciativa contesta sua legalidade, e o caso está no Supremo Tribunal Federal, onde realizaram-se audiências públicas destinadas a enriquecer o debate.

Na quarta-feira o senador Demóstenes foi ao STF, argumentou contra as cotas e disse o seguinte:
“[Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freyre, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual”.
O senador precisa definir o que vem a ser “forma muito mais consensual” numa relação sexual entre um homem e uma mulher que, pela lei, podia ser açoitada, vendida e até mesmo separada dos filhos.

Gilberto Freyre escreveu o seguinte:
“Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesma do regime”.
“O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade de escrava: abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não: ordem.”
“Não eram as negras que iam esfregar-se pelas pernas dos adolescentes louros: estes é que no sul dos Estados Unidos, como nos engenhos de cana do Brasil, os filhos dos senhores, criavam-se desde pequenos para garanhões. (…) Imagine-se um país com os meninos armados de faca de ponta! Pois foi assim o Brasil do tempo da escravidão.”

Demóstenes Torres disse mais:
“Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (…) Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da economia africana”.
Nós, quem, cara-pálida? Ao longo de três séculos, algo entre 9 milhões e 12 milhões de africanos foram tirados de suas terras e trazidos para a América. O tráfico negreiro foi um empreendimento das metrópoles europeias e de suas colônias americanas. Se a instituição fosse africana, os filhos brasileiros dos escravos seriam trabalhadores livres.

No início do século 20 os escravos não eram o principal “item de exportação da economia africana”. Àquela altura o tráfico tornara-se economicamente irrelevante. Ademais, não existia “economia africana”, pois o continente fora partilhado pelas potências europeias. Demóstenes Torres estudou história com o professor de contabilidade de seu ex-correligionário José Roberto Arruda.
O senador exibiu um pedaço do nível intelectual mobilizado no combate às cotas.

Fotos da Marcha em São Paulo

Vendo o twitter, pelo post do Jornal "Brasil de Fato", conferi fotos sensacionais da 3.ª Ação Internacional da Marcha de Mulheres. Trago-as abaixo. E sugiro acessarem o blog do Cláudio Puty http://migre.me/n5d8, em que expõe a importância deste momento.

Detalhe: minha mãe e irmã estão por aí,rsrs.






segunda-feira, 8 de março de 2010

Chico o melhor entendendor da alma feminina

Neste dia 8 de março, em que se homenageia e se ressalta a luta das mulheres por um mundo mais digno, nada melhor que buscar o grande artista Chico Buarque de Holanda. O Chico que demostra em sua arte a entender a alma feminina, seus anseios e compreensões do mundo,- mesmo ele sempre dizendo que não, que apenas aprende com as mulheres.


Logo ele que trouxe em suas canções muitas mulheres, fictícias ou não, para o Blog é a melhor referência masculina para ilustrar melhor este dia, e emprestamos seu olhar, com a música "Olhos nos Olhos":

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando, sem mais, nem por quê
Tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos
Quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz


Lembrança especial às mulheres da Marcha, que seguem juntas na 3.ª Ação Internacional de trajeto de Campinas a São Paulo, de hoje até o dia 18 de março.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Mulheres lutadoras

Hoje representantes do movimento feminista se reuniram com a Governadora Ana Júlia para celebrar a data de homenagem à mulher e afirmar o plano estadual de promoção de políticas para mulheres.

Trago algumas imagens do momento, em especial à participação da MMM-PA.

Todas juntas

Minha mãe é feminista!

Romana também.

Bebel e Ana Júlia

Comemoração do Dia Internacional da Mulher completa 100 anos

Escolha do 8 de março está ligada a mobilizações de mulheres na Revolução de Fevereiro de 1917, na Rússia


Dafne Melo,
da Redação do Brasil de Fato
03/03/2010


Por muito tempo acreditou-se que a escolha do 8 de março para ser o Dia Internacional das Mulheres foi devido à um incêndio em uma fábrica têxtil nos Estados Unidos que vitimou cerca de 150 trabalhadoras que organizavam uma greve contra às más condições de trabalho. Até mesmo militantes do movimento feminista aceitavam essa explicação. Desde a década de 1970, entretanto, novas pesquisas nessa área têm apontado que a escolha da data está ligada à história da Revolução Russa. “De fato houve esse incêndio nos EUA, um acontecimento trágico para o movimento sindical e feminista na época, mas o incêndio sequer teria ocorrido nessa data”, explica Tatau Godinho, militante da Marcha Mundial de Mulheres.

Ela explica que hoje se tem comprovado pelos documentos que a orientação para se realizar as comemorações e manifestações internacionais se deu em 1910, numa resolução da Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, na Rússia, e que não havia uma indicação de data fixa para a comemoração. A reivindicação central seria o direito ao voto para as mulheres. Até a década de 1920 do século passado, as feministas realizaram as lutas em diferentes datas em seus países. Somente em 1922, após a Conferência Internacional das Mulheres Comunistas é que foi sugerida a data do 8 de março.

Revolução russa
No antigo calendário ortodoxo russo, o 8 de março corresponde ao 23 de fevereiro, data que marca o início da primeira fase da Revolução Russa, na qual o czar Nicolau II renunciou ao poder e a Rússia adotou um regime republicano. “As mulheres tiveram um peso muito grande nas mobilizações de fevereiro. Há registros de uma grande greve coordenada pelas operárias do setor têxtil que teria iniciado essas agitações; elas pediam o fim da participação da Rússia na I Guerra Mundial, a volta dos militares para suas casas, e pão”, explica Tatau. Essas mobilizações estavam, inseridas dentro das comemorações do Dia da Mulher e se davam em um momento em que o país estava mergulhado em uma crise política e era seriamente atingido pela fome.

Alguns dos líderes da revolução fazem referência direta ao fato em seus textos. “O dia das trabalhadoras em 8 de março de 1917 foi uma data memorável na história (…) A Revolução de fevereiro começou nesse dia”, escreveu a dirigente feminista Alexandra Kollontai. Leon Trotski, na obra “História da Revolução Russa”, comenta que ninguém poderia prever que o Dia da Mulher pudesse inaugurar a revolução, desencadeando uma greve de massas.

Resgate
Para Tatau Godinho, resgatar a verdadeira origem do 8 de março é importante por inúmeros motivos. Primeiro, mostra como a luta das mulheres pode e deve caminhar junto com a luta por transformações sociais mais profundas. Segundo, resgata a data como um momento de luta e organização das mulheres socialistas, devolvendo à comemoração seu conteúdo político. Também por esses motivos não é difícil imaginar porque a memória histórica hegemônica aceitou e propagandeou a versão do incêndio da fábrica têxtil nos EUA, e escondeu sua origem socialista. “Há um esforço de institucionalização e comercialização da data que coincide com um certo refluxo do movimento de mulheres socialistas, o que começa a se reverter na década de 1970, quando se começa a surgir o interesse na verdadeira origem da escolha da data”, finaliza Tatau.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Começando a homenagem às mulheres

Aproximando-se o dia internacional da mulher, já começando as homenagens. Em especial àquela que me fez o mês festivo de fevereiro mais doce e alegre ao melhor modo clown. E claro usaremos, sem nenhum pudor, Chico e Tom para externar tal sentimento:

Imagina
Imagina
Hoje à noite
A gente se perder

Imagina
Imagina
Hoje à noite
A lua se apagar

Quem já viu a lua cris
Quando a lua começa a murchar
Lua cris
É preciso gritar e correr, socorrer o luar

Meu amor
Abre a porta pra noite passar
E olha o sol
Da manhã
Olha a chuva
Olha a chuva, olha o sol, olha o dia a lançar
Serpentinas
Serpentinas pelo céu

Sete fitas
Coloridas
Sete vias
Sete vidas
Avenidas
Pra qualquer lugar
Imagina
Imagina

PAGU - Mulher de Luta

Do Blog da Ana Júlia - Governadora do Pará


Escritora, jornalista e militante comunista, Patrícia Rehder Galvão, mais conhecida como Pagu, teve grande destaque no movimento modernista iniciado em 1922.

Aos 18 anos, mal completara o Curso na Escola Normal da Capital, em São Paulo , Pagu já estava integrada ao movimento antropofágico, de cunho modernista, sob a influência de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Passa a ser então considerada a musa do movimento.

Em 1930, um escândalo para a sociedade conservadora de então: Oswald separa-se de Tarsila e casa-se com Pagu. No mesmo ano, nasce Rudá de Andrade, segundo filho de Oswald e primeiro de Pagu. Os dois se tornam militantes do Partido Comunista.

Ao participar da organização de uma greve de estivadores em Santos, Pagu é presa. Era a primeira de uma série de 23 prisões, ao longo da vida. Logo depois de ser solta (1933) partiu para uma viagem pelo mundo, deixando no Brasil o marido Oswald e seu filho. No mesmo ano, publica o romance Parque Industrial, sob o pseudônimo de Mara Lobo.

Em 1935 é presa em Paris como comunista estrangeira, com identidade falsa, e é repatriada para o Brasil;. Separa-se definitivamente de Oswald, retoma a atividade jornalística, mas é novamente presa e torturada, ficando na cadeia por 5 anos.

Ao sair da prisão, em 1940, rompe com o Partido Comunista, passando a defender um socialismo de linha trotskista. Integra a redação de A Vanguarda Socialista junto com seu marido Geraldo Ferraz, o crítico de arte Mário Pedrosa, Hilcar Leite e Edmundo Moniz. Do casamento com Geraldo Ferraz, nasce seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz, em 18 de junho de 1941.

Em 1952 frequenta a Escola de Arte Dramática de São Paulo, levando seus espetáculos a Santos. Ligada ao teatro de vanguarda apresenta a sua tradução de A Cantora Careca de Ionesno. Traduziu e dirigiu Fando e Liz de Arrabal, numa montagem amadora onde estreava um jovem artista Plínio Marcos.

É conhecida como grande animadora cultural em Santos, onde passa a residir. Dedica-se em especial ao teatro, particularmente no incentivo a grupos amadores. Lança novo romance, A Famosa Revista, escrito em parceria com Geraldo Ferraz, em 1945. E em 1950, tenta, sem sucesso, uma vaga de deputada estadual.

Ainda trabalhava como crítica de arte, quando foi acometida de um câncer. Viaja então a Paris para se submeter a uma cirurgia, sem resultados positivos. Decepcionada, Patrícia tenta suicídio, o que não se consuma. Sobre o episódio, ela escreveu no panfleto "Verdade e Liberdade": "Uma bala ficou para trás, entre gazes e lembranças estraçalhadas". Volta ao Brasil e morre em 12 de dezembro de 1962, em decorrência da doença.

Ainda Pagu – O apelido Pagu surgiu de um erro do poeta modernista Raul Bopp, autor de Cobra Norato. Bopp inventou o apelido, ao dedicar-lhe um poema, porque imaginou que seu nome fosse Patrícia Goulart e por isso fez uma brincadeira com as primeiras sílabas do nome.

Em viagem à China, Pagu obteve as primeiras sementes de soja que foram introduzidas no Brasil.

Em 2004 a memória de Pagu foi salva pela catadora de rua Selma Morgana Sarti, em Santos. A catadora encontrou jogados no lixo fotos e documentos originais da escritora e do jornalista Geraldo Ferraz, seu último companheiro. Entre os achados, estava uma foto de Pagu, com dedicatória para Geraldo.

Pagu publicou os romances Parque Industrial (edição da autora, 1933), sob o pseudônimo Mara Lobo, considerado o primeiro romance proletário brasileiro, e A Famosa Revista (Americ-Edit, 1945), em colaboração com Geraldo Ferraz. Parque Industrial foi publicado nos Estados Unidos em tradução de Kenneth David Jackson em 1994 pela Editora da University of Nebraska Press.

Escreveu também contos policiais, sob o pseudônimo King Shelter, publicados originalmente na revista Detective, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, e depois reunidos em Safra Macabra (Livraria José Olympio Editora, 1998).

No trabalho de Pagu junto a grupos teatrais, revelou e traduziu grandes autores até então inéditos no Brasil como James Joyce, Eugène Ionesco, Arrabal e Octavio Paz.


DireitospraTodos: saúdo com a figura de Pagu ao Movimento Feminista que já se organiza para a 3.ª Ação Internacional a ocorrer de 08 a 18 de março em São Paulo. E teremos qualificada delegação paraense.

quarta-feira, 3 de março de 2010

SÓ DE SACANAGEM
(por Elisa Lucinda, lida por Ana Carolina prefaciando a música "Brasil Corrupção - Unimultiplicidade", de Tom Zé)

E como me fez lembrar do Caso do DF.
Ainda temos músicas combativas neste país. A esperança nunca pode morrer. Eis o conto:

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas, meias que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.

Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.

Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."

Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

NÃO PODEMOS RETROCEDER NA HISTÓRIA!

terça-feira, 2 de março de 2010

Pesquisadores ensinam a fazer cerveja em casa e com frutas regionais

Da Redação
Agência Pará

Loira, gelada, com álcool, sem álcool, de chocolate, light. Ela possui vários tipos e denominações e tem pelo menos 10 mil anos de existência, sendo apreciada primeiramente pelos povos da antiga Mesopotâmia e pelos egípcios. Assim é a cerveja, bebida cujo consumo aumenta 0,28% no Brasil, sempre que aumenta o calor. Os dados são do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), que indica o Brasil como o quarto maior consumidor de cerveja no mundo, perdendo apenas para a China, Estados Unidos e Alemanha. Na região Norte, em que as temperaturas ultrapassam os 34 graus, são muitos os que se rendem à apreciação da bebida.


Pesquisadores do curso de Tecnologia Agroindustrial, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), após um trabalho de conclusão de curso, passaram a desenvolver cursos de extensão que ensinam a arte de produzir cerveja em casa, com baixo custo e fácil produção. Tudo com uma diferença: elas podem ter o sabor de frutas regionais, como cupuaçu, bacuri e manga.


"Para se ter uma boa cerveja basta a cevada, lúpulo, levedura e uma boa água. A fabricação é muito simples; já realizamos com sucesso a produção de cervejas de frutos da região, e também de maçã, acerola, morango e abacaxi. Em princípio, pode ser feito cerveja de qualquer fruta", diz Marcos Eger, pesquisador responsável pelos cursos.


As cervejas produzidas no curso possuem um teor alcoólico de 1,3 a 5%. Até agora, a produção realizada nos laboratórios de tecnologia se limita a 20 litros, ou seja, 33 garrafas de 600 ml.


Com a fabricação caseira, pequenos produtores do Estado poderiam se beneficiar com a criação de microcervejarias de frutas regionais. "Na Alemanha, por exemplo, não existem grandes cervejarias, o que existe são pequenas cervejarias que atendem à pequenas regiões. Se fabricada no interior do Estado, por exemplo, teríamos um produto próprio, de baixo teor alcoólico, rico em proteínas e que pode gerar um bom lucro, já que o custo é pequeno e pode ser vendido por um valor mais baixo do que o cobrado por outras cervejas", diz.


De acordo com o pesquisador, o mais importante na fabricação caseira da cerveja é a higiene. "Para uma produção pequena e caseira, com muita higiene e cuidado, após sete dias fermentando dentro da garrafa, é só abrir e apreciar, já que nesse caso a produção não deve ser armazenada e, sim, consumida após pronta. Já para ser comercializada, há uma série de análises, especificações e normas a serem cumpridas para que essa cerveja passe a ser vendida", esclarece.


A próxima ação é aproximar as comunidades do interior junto aos núcleos da Uepa neste projeto. Já foram realizados cursos em Belém, Paragominas, Marabá e recentemente em Cametá, onde os pesquisadores convidaram os empresários locais para experimentar a cerveja de acerola. A cerveja é produzida a partir da fermentação de cereais, principalmente a cevada maltada, e acredita-se que tenha sido das primeiras bebidas com álcool a serem desenvolvidas pelo ser humano. A produção da cerveja tem um total de 15 etapas, que vão desde a separação dos grãos, moagem e maltagem, até a fervura, masturação, pasteurização e armazenamento.


À princípio, os cursos de cervejaria são para os alunos de tecnologia agroindustrial, mas podem ser solicitados por outras instituições na coordenação do curso, que fica no Centro de Ciências Naturais (CCNT/Uepa), localizado na travessa Enéas Pinheiro, 2626, Marco, Belém.


Ascom - Uepa

ps.: o jeito é degustar.

segunda-feira, 1 de março de 2010

A tendência é de descer o Serra

O futuro de Serra
Por Marco Aurélio Mello
Ministro do STF
direto do blog do Luis Nassif)

Faz algum tempo que deixei de ser editor de política. Ainda que o fosse, não considero ter as credenciais dos grandes “formadores de opinião” para fazer a análise que pretendo, nem tenho também a arrogância dos “pequenos”, para difundir uma verdade absoluta.

Mas, com base nas informações que possuo da política estadual paulista e na experiência que acumulei ao longo dos tantos anos em que estudei o assunto com aplicação, vou tentar traçar um cenário, a partir da última pesquisa de opinião pública divulgada neste fim de semana. A considerar o retrato de hoje, José Serra está preso em seu labirinto. Sabe que perdeu o “timing”. Seu PSDB só está com ele na Capital.

Desde 2006, quando tentou levar seu adversário Geraldo Alckmin às cordas, perdeu apoio importante no interior. Apoio que não recuperou na condição de governador. Tanto é assim, que os palanques para a campanha do ex-governador Alckmin já estão prontos.

Ao evitar a disputa com Aécio Neves pela indicação, também se afastou do segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais. Hoje tem apenas o apoio de caciques, numa coligação nacional com o DEM que ameaça a fazer água (o trocadilho fica por conta do leitor), depois do afastamento dos influentes grupos do, por enquanto, ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda e o do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

O pré-candidato à presidência só tem de certo, hoje, os palanques do grupo Abril, Folha e Globo e, talvez, o do Rio, a depender de uma aliança com o Partido Verde, na pessoa de Fernando Gabeira. Digo na pessoa, porque sei que no Rio o PV não é orgânico, portanto, não tem base, nem militância.

Nos outros estados, o peso eleitoral e financeiro é tão pequeno para o PSDB que – nessas condições – tornam-se irrelevantes. Serra morre aos poucos. Se sair candidato à presidência, sabe que perde e, com ele, seu partido naufraga junto. Também sabe que se sair candidato à reeileição, mesmo com a máquina nas mãos, terá duas disputas duríssimas. Primeiro, com o grupo Alckimista e, depois, com os homens que serão subjulgados dentro do partido. Ele terá o ciclo da lua de março para decidir seu destino político: poderá entrar para a história como Teseu, ou morrer como o Minotauro. Aposto na segunda.

Comentário

Será que o Datafolha pesquisou também São Paulo? Quem se sairia melhor, como candidato do PSDB, Serra ou Alckmin? Na últlima pesquisa, antes da queda de Serra registrada na atual, Alckmin tinha percentual maior de votos.